a forra do boi. defensores dos animais até que ponto?

Duas notícias sobre touradas ganharam destaque na mídia em 2010: a primeira falava sobre a proibição de eventos desse tipo na Catalunha, Espanha. O Estado de São Paulo, no dia 28/07/2010, trouxe o artigo “Os últimos olés da Catalunha”, que claramente se posicionava a favor da decisão do Parlamento catalão:

Tradições não são eternas, nem sagradas. Se o fossem, ainda estaríamos queimando feiticeiras e empalando gatos pretos ou sacrificando viúvas, como se fazia na Índia, e os criados, como se fazia no Egito.

A segunda notícia foi sobre um touro enfurecido que atacou a plateia, ferindo 30 pessoas e que foi, em seguida, sacrificado. A foto do animal com os chifres ensanguentados estampou metade da página, também do Estado de São Paulo, desta vez no dia 22/08/2010, sob o título “A forra do boi”.




Poucas pessoas, hoje, se questionadas, afirmarão que são a favor de touradas. Assim como são poucas as pessoas que dirão que apóiam a farra do boi, em Santa Catarina, ou que são adeptas ao uso de peles de tigres, onças ou outro animal tido como exótico. A mídia favorece essa opinião, fomentando a ideia de que não devemos maltratar os animais e, sim, preservar as espécies, sobretudo as que estão em extinção.

A filósofa britânica Mary Warnock, em seu ensaio sobre os animais, em que critica o especismo de Peter Singer, afirma que os animais só poderão ter direitos se os mesmos estiverem previstos numa Lei. No Brasil, temos a Lei de Crimes Ambientais nº 9605, de 1998, cujo artigo 32 prevê multa e prisão para quem a infringir, maltratando os animais. Ela nem sempre é cumprida com exatidão, assim como muitos outros parágrafos previstos em nossa legislação. O fato é que ela existe, embora com lacunas. Sobre quais tipos de maus-tratos estamos falando?
 
Alguns são facilmente identificados, como o caso do “Queimadinho”, um cavalo da Baixada Fluminense que foi vítima de queimaduras graves. O animal “trabalhava” carregando uma carroça na época em que o agressor atirou álcool e fogo contra seu corpo. A história foi disseminada pela TV Record, que diariamente em seus telejornais noticiava a recuperação do cavalo, que quase morreu. Ele ficou sob tratamento no Batalhão da Polícia do Rio de Janeiro e ganhou apoio e prestígio da população local, e também do resto do País após virar notícia. Uma reportagem especial, “Conheça a história do cavalo Queimadinho”, ocupou mais de dez minutos do Domingo Espetacular de 20/04/2010. A história segue esse enredo: o cavalo foi vítima de uma crueldade, pessoas próximas, inclusive crianças, sofrem por vê-lo neste estado. Mas o fim é feliz, com a recuperação gradual do animal. Na reportagem, o animal tem sentimento, sente dor e espera por apoio, carinho e compaixão.

Outro caso: passeando pelo Mercado de São Paulo, vemos pedaços inteiros de porcos, peixes, aves e bois dispostos pelas barracas. Chama a atenção o ponto “Porco Feliz”, que vende “carnes nobres e exóticas”. Não há ninguém questionando como os animais foram parar ali ou em que condições foram abatidos. Aliás, não há nenhuma preocupação sobre o fato de um dia eles terem tido uma vida fora das prateleiras.

Mais um ato: a nova vacina contra a gripe H1N1, ou suína como ficou conhecida, foi testada primeiramente em furões. Sem entrar no mérito do alarde feito pela Organização Mundial da Saúde sobre a provável epidemia, tido depois como um exagero, o que vimos foi grande parte da população ser vacinada e protegida. Os animais foram necessários para o desenvolvimento da medicina, conforme informa o Portal Terra, em 19/08/2009, “Gripe: teste com animais valida nova vacina, diz laboratório”:

O Novavax disse que a vacina protegeu furões contra a nova cepa pandêmica. Os furões são os animais mais parecidos com os humanos no que diz respeito à contaminação por gripes. “Os furões receberam uma dose de 3,75, 7,5 e 15 microgramas da partícula semelhante ao vírus H1N1 de 2009, ou um placebo, e receberam o reforço de uma segunda dose após três semanas”, disse a empresa em nota.

Ligando a TV durante o almoço num sábado à tarde, vemos num destes programas que traz estrelas do show business ensinar um dos pratos favoritos de uma atriz: lombo de porco. Seria o “Porco Feliz”?
 
Já uma reportagem, também no Domingo Espetacular da TV Record, mostra a SUIPA sob investigação. Essa é uma das mais antigas associações em defesa dos animais no Brasil. A reportagem mostra os galpões do grupo em péssimas condições, além disso, insinua que há um desvio de dinheiro das doações. Já os animais são mostrados doentes, tristes, mais abandonados que nunca. O telejornal ouve as duas partes: acusação e réu. Neste caso, não importa o desfecho e, sim, o contexto que queremos abordar.
 
É justamente disso que trata Peter Singer quando inaugurou a “Libertação Animal”, o paradoxo na relação do homem com os animais, a facilidade com que o ser humano tem de, mesmo inconscientemente, separar e classificar os bichos. Pode ser que muitas pessoas não comeriam o porco exposto no Mercadão se o tivessem visto brincando em vida, como o personagem principal de “Babe, o porquinho atrapalhado”, filme de 1995. Como vimos, o porco está sempre presente, seja no prato ou no dito: no “espírito de porco”, em “ser porco” ou “comer como um porco”. Outros bichos também serviram para rotular os maus hábitos humanos, se transformando em expressões populares herdadas de nossos antepassados, como bem explicou Keith Thomas, ao citar o manual de boas maneiras de Erasmo:

Não mexa os cabelos, como um potro; não relinche ao ri, como um cavalo, ou mostre os dentes, como um cachorro; não balance o corpo inteiro ao falar, como uma lavandisca; não fale pelo nariz: isso é próprio das gralhas e dos elefantes. (Thomas, 1988:44)

A verdade é que isso não importa. Somos carnívoros, o que é inquestionável. “Como você consegue ficar sem carne?” é uma pergunta que sempre ouço, principalmente durante as refeições. Às vezes, finjo que não escuto o questionamento e fica por isso mesmo. Comer carne é normal. Viver a base de vegetais é o incomum.

Por muito tempo se tentou justificar a soberania humana tendo a Bíblia e o mito da criação como álibi. Vimos isso nos relatos de Keith Thomas sobre a Inglaterra dos séculos XV a XVIII. Pensadores, pesquisadores e teólogos sempre tinham um argumento para mostrar o porquê de os homens poderem utilizar os animais a seu favor.

No século XVIII, Philip Doddridge (pastor inglês que viveu entre 1702 e 1751) considerava que, como os animais são “capazes apenas de níveis limitados de felicidade, em comparação com o homem, é “adequado que os interesses deles cedam ao da espécie humana sempre que, em algum artigo considerável, surgir competição entre uns e outros.” (Thomas, 1988:27)Como ele mediu este nível de felicidade, não sabemos. Mas alguém que tem um animal de estimação poderia questionar. Alguém como uma das mulheres da reportagem “Filhos de quatro patas”, do Estado de São Paulo, também do dia 22/08/2010, e capa do suplemento Feminino do jornal. O texto fala sobre mulheres que tratam seus animais de estimação como filhos.

Criados com regalia pelas irmãs Selma, uma professora aposentada de 57 anos, e Márcia Hage, biomédica, de 50 anos - as “mães” -, o casal de cães Schnauzer tem de tudo: ração e xampus especiais, gargantilhas de pelica, roupinha de plush para o inverno com direito a capuz e detalhes em strass, cobertor, frasqueiras para carregar seus kits de banho e de higiene bucal, além de visitas corriqueiras ao veterinário. A cama fica ao lado da delas. Nas noites frias, não hesitam em pular para cima e, ainda, dormem com a cabeça no travesseiro. Ah, também adoram passear de carro. E há cinto de segurança para a dupla. O perfume? É francês!



Exagero? A matéria tem por vezes um tom irônico e por meio de depoimentos de psicólogos alerta sobre os limites da relação com os bichos de estimação. Cita, ainda, os casos raros de heranças que foram deixadas para os animais.

Os bichos de estimação da milionária norte-americana Gail Posner, que era filha do empresário Victor Posner, herdaram R$ 21 milhões após sua morte. Para o filho, ela deixou R$ 1,7 milhão de herança. Limites à parte, mesmo nestes casos extremos podemos dizer que há uma divisão que separa os animais dos seres humanos. Para começar, muitos deles são de “raça” e muitos deles são “comprados”. Excluindo o contrabando de crianças, que é outro debate e outra dissertação, não compramos filhos. Podemos adotá-los, mas não os escolhemos em vitrines de pet shops, como fazemos com os animais.

O cachorro custava R$ 900, dinheiro que não dispunham naquele momento, em que o saldo bancário estava no vermelho e não havia trabalho em vista. Eduarda sabia que aquela raça trazia sorte, e a lenda foi comprovada. “Enquanto ele preenchia o cheque desesperado, o telefone tocou e fechamos um contrato com o ator e produtor Paulo Betti.”

A cena acima foi narrada por um casal de músicos que comprou um cão da raça lhasa apso. Será que um vira-lata não merecia a mesma atenção e poderia ser, também, um amuleto da sorte? O mesmo suplemento que traz esta matéria sobre o amor exagerado pelos animais indica, na seção Modas, sapatos e bolsas de couro que chegam a custar mais que o cachorro dos músicos. Nenhuma menção ao boi que serviu de matéria-prima. Continuando a folhear o mesmo suplemento, nos deparamos com um anúncio da ração “Premier - Raças Específicas”. Com certeza, não é para qualquer cachorro. Mas pode ter sido feita com qualquer vaca. Merece o jornal uma carta agressiva de algum protetor citando a Lei nº 9605/98, artigo 32?

Enfim, esta é a discussão dos protetores dos animais. Mas aqui também temos outro paradoxo. Esta é a discussão dos protetores dos animais mais ortodoxos. Aqueles que levam a sério os questionamentos de Peter Singer. Os que responderam sem hesitar o questionamento inicial de Warnock: “devemos ser vegetarianos?” Sim, eles respondem, sem piscar o olho.
 
Mesmo dentro da defesa dos animais, temos voluntários que se dedicam apenas a cuidar de animais domésticos abandonados. Temos aqueles que lutam contra caça ou em defesa dos que estão em extinção. E temos os que atacam todos os lados. Numa tentativa de entrevistar a Nina Rosa, presidente do Instituto que leva seu nome, ouvi:

Não adianta falar com a imprensa, não adianta falar com os estudantes. Já fiz muito isso e não virou nada. Só atrapalha. Tenho muito o que fazer aqui, minha filha, tenho que cuidar de muitos bichos. Todos, inclusive das moscas.O PETA, neste contexto, surge como um dos grupos mais radicais do mundo. Ganha muita mídia espontânea com seus protestos que trazem pessoas nuas, anúncios com conotação sexual e artistas famosos ou quase famosos. Somente na Folha Online, foram identificadas 69 matérias com referência direta ao PETA, de 2004 a 2009.

Pesquisa feita para embasar a hipótese de um mestrado, de que os discursos dos protetores dos animais muitas vezes não são efetivos, mostra que 65% dos ativistas ouvidos já tinham uma predisposição para a defesa dos animais antes de levarem a sério este trabalho. “Desde criança já gostava de animais.” Então, faltava pouco para eles adentrarem na luta em prol dos seres não humanos. Bastou um animal específico que viram sofrendo, informações na imprensa sobre a crueldade ou contato com alguma ONG, entre outras observações, para se tornarem ativistas da causa.
 
Ao falar sobre campanhas anti-drogas, Eduardo Furtado Leite, em “Drogas, concepções, imagens”, analisa as campanhas preventivas e a real eficácia delas. Termina dizendo que elas não podem garantir que o consumidor de drogas abolirá o consumo. Ele fala, acima de tudo, em educação e em deixar o usuário ter acesso a outras práticas que venham a substituir a eventual fuga da realidade que a droga proporciona.
 
Para os animais, não é diferente. Por isso, questionamos alguns artifícios utilizados pelos defensores dos animais. As campanhas mostram animais mortos, feridos, sem pele e ensanguentados. Como apontou Roland Barthes em “Mitologias”, isto pode não chocar, porque não estamos diante da cena, não estamos presenciando e vivenciando o fato. Alguém já viu e sofreu por nós, diz o filósofo francês ao comentar uma exposição de fotografias para “chocar o público”, como soldados mortos amontoados.
Outro ponto controverso é o engodo artístico. Fernando Pessoa já dizia que “O poeta é fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente.” Pois o artista também é um fingidor. Finge tão completamente que podemos não acreditar na causa que deveras defende.

Ora, nenhuma dessas fotografias, excessivamente hábeis, atinge-nos. É que perante elas ficamos despossuídos da nossa capacidade de julgamento: alguém tremeu por nós, refletiu por nós, julgou por nós; o fotógrafo não nos deixou nada - a não ser um simples direito de uma aprovação intelectual: só estamos ligados a essas imagens por um interesse técnico; carregas de sobreindicações pelo próprio artista, para nós não têm história, e não podemos inventar a nossa aceitação a essa comida sintética já perfeitamente assimilada pelo seu criador. (Barthes, 2004:107)

As celebridades fazem parte do contrato de comunicação do PETA. Estão fortemente presentes nos anúncios e são responsáveis por grande parte do espaço que o grupo consegue nos veículos de comunicação por meio de mídia espontânea. Porém, a presença de famosos não é exclusividade do PETA. Eles estão presentes em muitos anúncios publicitários. Vendem de tudo e para todos, inclusive ideias, porque os fãs costumam copiar o estilo dos ídolos. Os roqueiros fãs do vocalista do Guns n´Roses, Axl Rose, saíam pelas ruas com uma faixa na cabeça, como o cantor, exemplo simplista, mas que retrata uma realidade de cópias e espelhos.

A diferença para ações e discursos voltados às ONG´s, contrapondo a venda de bens de consumo, é que partimos do pressuposto de que as celebridades são realmente engajadas na causa que estão defendendo. Principalmente porque muitas vezes há a divulgação de que não estão ganhando cachê para expor suas imagens em anúncios, vídeos ou outros tipos de propagandas que levam o nome dos grupos que apóiam. Afora, muitas delas, falando especificamente sobre as que aparecem no PETA, dão depoimentos e entrevistas sobre os direitos dos animais, criticando maus-tratos e fazendo campanhas pelos bichos, mesmo sem fazer referência direta ao grupo.

Por outro lado, também podemos questionar até que ponto o engajamento não é uma forma desses artistas se aproximarem dos mortais, de mostrar que também são sensíveis a causas comuns. Muitos deles precisam estar próximos e presentes, e enfatizar que também são humanos. Como fizeram condes franceses e príncipes espanhóis no “Cruzeiro do Sangue Azul”, que Barthes descreve. “Os reis brincavam de homens” (Barthes, 2204:36). Trata-se de umas férias que apenas reforçam que eles são diferentes. Eles têm que entrar no cotidiano dos mortais para enfatizar sua origem sangue azul e posição que ocupam no universo dos seres sobre-humanos.

Não estariam todos no jogo da sociedade do espetáculo, uma forma de autopromoção por meio dos animais como os reis conseguiram, de certa forma, uma autopromoção “brincando de homens”? Aqui seria o contrário, não a celebridade vendendo a defesa dos animais, mas os animais vendendo a celebridade. Não se pode negar que com isso o PETA aparece, mesmo que apenas numa pequena menção. Afinal, o mais importante é saber se a Alicia Silverstone sentiu ou não vergonha de tirar a roupa diante das câmeras para a campanha do PETA, aos motivos que levaram a atriz a, supostamente, adotar uma dieta vegetariana.

Assim, os gestos neutros da vida cotidiana adquiriram no Agamenon um caráter de audácia exorbitante, como as fantasias criativas nas quais a natureza transgride os seus reinos: os reis barbeando-se a si próprios. (Barthes, 2004:36)

Análises semióticas dos anúncios do grupo mostram que a celebridade acaba por desligar-se da informação da defesa dos animais. O interpretante imediato mostra um artista engajado com uma causa que não sabemos exatamente o que é: tem a ver com animais, ele nos diz.
 
Discursos agressivos e proibitivos podem intimidar porque podem dar a impressão de que os protetores é que estão errados ou que vivem colocando em prática ideias extravagantes. É o que interpreta a mídia quando diz “Os manifestantes do PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), entidade de defesa dos animais, aprontaram mais uma”, texto da Folha Online, 24/01/2007. É o que é passado para o público que lê a matéria.

Como defensores dos animais, lutamos e esperamos pela verdadeira “forra do boi”. Como espectadores e analistas desses discursos, sabemos que este dia está muito longe. Não se pode negar que essas ações são extremamente necessárias, pois despertam e levantam, de alguma forma, o problema. Os esforços são para que essas discussões e preocupações não sejam efêmeras, e que sejam incorporadas pelas pessoas.

Os protetores dos animais realizaram bons resultados nas últimas décadas. É grande a visibilidade que a mídia dá à defesa dos animais, ouvindo inclusive o ponto de vista das ONG´s. No entanto, ainda está longe do ideal antiespecismo de Peter Singer e dos ativistas mais extremistas. Para eles, a questão crucial é a alimentação, como apontou Mary Warnock.

Singer propõe o abate humanitário, um primeiro passo para diminuir a dor dos animais. Warnock condena esta posição entrando com um pensamento cartesiano: é ou não defensor dos animais? Para ela, não pode haver meio termo. Tendemos a defender o ponto de vista de Singer, pois o ativista ortodoxo e fiel ao extremo a seus princípios pode afastar as outras pessoas, que passam a vê-lo como alguém inconveniente que só quer pregar seu ponto de vista. Isto vale para religião, política e não poderia ser diferente na defesa dos animais.

Temos, ainda, um longo caminho a percorrer até o ponto em que será possível pressionar restaurantes e fabricantes de alimentos a eliminarem por completo os produtos de origem animal. Esse momento chegará quando uma parcela significativa da população estiver boicotando a carne e outros produtos de granjas industriais. Até lá, a coerência exige apenas que não contribuamos significativamente para a demanda de produtos de origem animal. Dessa forma, podemos demonstrar que não temos necessidade de produtos de origem animal. É mais fácil convencer os outros a adotar nossa atitude temperando nossos ideais com o senso comum do que lutando por um tipo de pureza mais próprio de regras alimentares religiosas do que um movimento ético e político. (Singer, 2004:264)

Equilibrar os dois pontos, vendo que a utilização de animais pelos seres humanos é muito mais que um hábito e se constitui em algo antropológico, surge como a melhor forma de dirigir os caminhos a serem percorridos rumo a políticas mais justas para ambos: homem e não homem.

De degrau em degrau, sem passar por cima de ninguém. Esta é “minha dureza”, como disse Nietzsche, num de seus aforismos em “A gaia ciência”:

Tenho de passar por cem degraus,
Tenho de subir e escuto vocês falarem:
“Você é duro; então somos feitos de pedra?” -
Tenho de passar por cem degraus,
E ninguém quer ser degrau.


Ninguém abre mão do que conquistou. E a conquista do reino animal e vegetal faz há muito tempo parte das vitórias humanas. Quem sabe, neste caso, não seja necessário descer um degrau?


Referências

BARTHES, Roland. Mitologias. São Paulo: Bertrand Brasil, 1993.
LEITE, Eduardo A. Furtado. Drogas, concepções, imagens: um comentário sobre dependência a partir do modelo usual de prevenção. São Paulo: Annablume; FAPESP, 2005.
NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
SINGER, Peter. Libertação animal. Porto Alegre: Lugano, 2004.
THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
WARNOCK, Mary. Os usos da filosofia. Campinas, São Paulo: Papirus, 1994.

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