tag:blogger.com,1999:blog-36055591011019232522024-02-19T06:55:51.464+02:00discurso dos protetores dos animaisSou mestranda em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Meu projeto gira em torno da defesa dos animais. Lanço este blog para debater esse assunto com adeptos e não adeptos da causa. Acredito que devemos, acima de tudo, ouvir aqueles que têm opiniões contrárias às nossas. Somente assim podemos avaliar nosso enunciado. De repente, nem sempre estamos com a razão. E, se estivermos certos, com certeza teremos mais argumentos para reforçar nossa crença.Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-42891038896802225422011-06-28T18:01:00.010+03:002021-12-29T17:35:02.557+02:00ser animal não é ser humanoAo entrar no prédio onde moro, deparo-me com um senhor empurrando um carrinho de bebê. Só que no lugar destinado a uma criança, havia um cachorrinho. Não sei exatamente de qual “marca”. <br /><br />Entendo a necessidade de algumas pessoas em dar todo o conforto aos seus bichinhos de estimação. Eu mesma faço isso. É muito gostoso ver a reação dos cachorros quando chegamos com algum petisco ou bolinha nova. E traz muita segurança saber que a medicina veterinária vem permitindo uma vida melhor aos nossos “amigos”. Mas não sei até que ponto o animal está pronto para aceitar todos esses mimos, principalmente quando são em excesso.<br /><br />Pet shops, e até grifes famosas, faturam com a domesticação dos animais, ou melhor, com a dita humanização que queremos dar aos bichos. Hoje, há nas prateleiras sorvetes, chocolates, panetones e outras guloseimas na versão canina. Gatos também têm seus apetrechos. Sem contar os assessórios que enfeitam as demais espécies de animais que passaram a viver nas casas dos humanos, como furões, chinchilas e outros roedores. E nem vou mencionar o que está disponível para aves e peixes, os mais prejudicados dentre os pets. <br /><br />Mas voltando aos bichinhos style. Passar perfume em cachorro faz mal. Dar migalhas do que comemos também faz mal. Achar que um cachorro é nosso filho faz mal. Passar nossos traumas para os animais não é legal. <br /><br />Há uma apresentação que roda na internet que retrata bem a humanização. Ela compara alguns cachorros com seus donos. Incrível como se parecem. E mais incrível ainda é notar que no dia a dia a semelhança procede. Resolvo contrastar meus amigos com seus respectivos animais. E lá está a mesma forma de cerrar a boca quando contrariados. O mesmo aspecto largado e descuidado. A mesma ansiedade. O mesmo olhar perdido.<br /><br />Até aí tudo bem, afinal cães são seres que sentem dor e sofrem. Que comemoram e que, eventualmente, imitam. Oras, são seres vivos como nós. Todavia, não são humanos. Principalmente, não são brinquedos nos quais, já adultos, depositamos nossas frustrações e “quererseroquenãosomos”. <br /><br />Já tive muitos cachorros. Todos “maloqueiros”, como costumo dizer ao compará-los com os animais que passeiam graciosamente com seus donos no Parque do Ibirapuera. Às vezes, até sinto uma pontada de inveja ao ver que obedecem prontamente a todos os comandos e que não saem em disparada quando soltos. O que nunca aconteceu com minha “prole”. Mas o meu questionamento é a obsessão em querer dar ao bicho algo que não combina com ele. Como levá-lo para passear num carrinho para bebê (em tempo: o animal não tinha nenhum tipo de deficiência e podia locomover-se sem nenhum problema). O ato de enfeitar as cachorrinhas com lacinhos, peircings, brilhos, jóias, bijuterias, esmaltes e laquê merece uma receita psiquiátrica. Façam isso com vocês. Não transfiram para os cães o que gostariam de ser e ter. <br /><br />No último fim de semana, vi uma reportagem que mostrava uma senhora cujo único passatempo é preparar a cachorra para os inúmeros campeonatos de beleza que existem nos Estados Unidos. Gasta alguns milhares de dólares na compra de vestidos, enfeites e tudo o que for necessário para conquistar os jurados. Sua infelicidade é que a cadela nunca ganhou nada além de um modesto segundo lugar. O marido diz que a mulher é mais feliz depois que adquiriu “essa atividade”. Talvez ele é que tenha ficado mais feliz, agora é fator secundário naquela casa. Menos atenção, mais liberdade, enfim. Xô, neurótica.<br /><br />Certa vez, uma professora me questionou se não seria injusto manter cachorros em casa, confinados, muitas vezes, numa pequena parte do quintal ou da varanda. Concordo em parte com a observação. Digo em parte por conta dos animais abandonados, cujo destino conhecemos muito bem: atropelamentos, violência, eutanásia. Com certeza, muitos deles estão em melhores condições porque encontraram um lar. Alguém que realmente gosta dos animais e que não os transformam em seu alter-ego.<br /><br />Infelizmente, muitas pessoas são atraídas pelas raças. Escolhem os filhotes em vitrines que, a exemplo das roupas e calçados, variam conforme a estação. Só que os filhotes crescem e, em alguns casos, perdem a graça e são dispensados. Ou acabam ficando “fora de moda”. Abandonados, não sabem viver sozinhos e sem os cuidados do homem. Também não são raros os casos dos donos que não abandonam os animais, mas que os doam a amigos, vizinhos e outros parentes porque “não se adaptaram” ao bicho. Será que foram mais benévolos?<br /><br />Enquanto isso, que tal prestar atenção no olhar abaixo? Será que ele está mesmo esperando um “carrinho que o carregue?” <br /><br /> <br /><a href="https://www.blogger.com/#"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOVE3WHOa-QpS7d4gTPDAC1p91F-MKNqpEYyjaMkwIXEi-rHChUnDxwKLNs1omXvm-xTFwZMqtEiUvIhDLo0WJ_WFT-PEV12aY1Rv8b4r-yp_Rh9TepmGAyEHFlUloZGGXmtdeYXQN5x9P/w383-h400/Pirulito2.jpg" width="383" /></a> <br /><i>Pirulito, vira-lata sem adornos <br /></i><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"></div>Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-86153136843026239202011-02-28T15:07:00.003+02:002021-12-29T17:36:50.955+02:00é do kikoNoite de junho de 2000. Estava diante do computador navegando pela Internet. Foi quando ouvi o choro de um filhote de cachorro. Não sei por que, mas fui para a calçada ver de onde vinha o ruído. Na época ainda morava com meus pais. Minha irmã me acompanhou. Subimos a rua e fomos em direção à avenida. O choro começou a ficar mais próximo. Vimos, então, um cachorrinho preto com manchas brancas no pescoço e peito, orelhas em pé, incansável. Deveria ter no máximo uns dois meses. Estava correndo de um lado para o outro. Andamos em sua direção. Ele parou, olhou para nós e quando nos aproximamos, começou a correr. Corremos também. Ele parou novamente e continuou a nos olhar. Parecia que queria brincar. Decidimos que seríamos amigos. Ele foi para casa conosco. Chegamos dizendo: “olhem o que achamos!” “Mais um!”, foi o comentário da dona Tamiko. Mas não houve recusa. Todos se encantaram com o carisma do bichinho.<br /> <br /> Na época, tínhamos três cachorros. O Goober, 5 anos. O Oliver, 3 anos. E a Tuti, 9 anos. A família era grande. Mas ainda cabia mais um: o Kiko, que se integrou rapidamente com a turma. <br /> <br /><a href="https://www.blogger.com/#"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-0XvYMmhYIUs/TWbDhsMah8I/AAAAAAAAAMA/fsJpjXkGrc4/s320/Kikinho.jpg" /></a> <br />Kikinho <br /><div>Ele brincava. Corria. E chorava. Chorava a noite inteira quando ficava sozinho. Mesmo dormindo na sala, quando as luzes se apagavam, não dava sossego.<br /> <br /> Lembro do Kiko brincando com o Goober. Eu dizia: “Gugu, pega ele! Pega ele!” E o Gugu saia correndo atrás do Kiko. Rodavam a mesa da cozinha. Passavam pelas cadeiras. Iam para os quartos. Não paravam. Isso aconteceu diariamente por uns seis meses. Pois, logo, o Kiko cresceu. E cresceu. E cresceu. Como ele estava na rua e aparentemente subnutrido, o veterinário receitou várias vitaminas e remédios para os ossos. Como diria minha irmã quando era criança, “ele cresceu grandão!”<br /> <br /><a href="https://www.blogger.com/#"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-a3yL3DvctPQ/TWbDlMBb3VI/AAAAAAAAAMI/956qMByKHgA/s320/KIKO_RENATA.jpg" /></a> <br />Renata e Kiko</div><div> <br />Ficou o maior da turma. E não sei o que fizemos de errado, porque algo foi feito com certeza, mas o Gugu, que era o melhor amigo do ex-filhote, virou seu inimigo. Tanto que tivemos que separá-los. Cada um ficou numa ala diferente da casa. E quando, eventualmente, se encontram, a briga era certa. Quando vê o Goober, o Kiko se transforma, o pelo fica arrepiado, os dentes expostos. Foram vários confrontos, que chegavam a tirar o nosso sono. O último acabou com o Goober, três vezes menor, no veterinário com vários furos, orelha mordida e todo enfaixado. Por sorte, muito cuidado e muita preocupação, esses encontros violentos nunca mais ocorreram. Há três anos, o Kiko fica na casa da minha tia, bem ao lado da nossa casa. Foi triste levá-lo para lá, mas foi preciso para evitar um desastre maior. Principalmente porque o Kiko acabou se desentendendo com todos os outros cachorros, à exceção da Tuti. Ele queria o carinho só para ele. <br /> <br /> Meu pai idolatrava o Kiko. Infelizmente, o acompanhou por um ano apenas, pois faleceu em 2001. Orgulhava-se em ver o cachorro se desenvolvendo e falava para todos que tinha um cachorro grande, forte e muito bravo. Na verdade, o Kiko não é bravo. Apenas não gosta muito de estranhos (e do Goober). Mas conosco é um doce. O mais meigo de todos. Sempre atencioso, não é afoito na hora da comida como os outros. Ouve atenciosamente o que falamos. Se falamos, “isso não é do Kiko”, ele respeita. Mesmo que seja sua comida preferida. De vez em quando e por brincadeira, cometemos um ato cruel. Chegamos com petiscos que ele gosta e falamos “não é do Kiko”. Colocamos a comida no chão e ele não pega! Dá dó mas é engraçado. Rapidamente, consertamos. “Sim! É do Kiko!” Ele sorri (sim, cachorro sorri), pega o alimento e corre para a casinha de madeira. Dá cinco segundos e volta mostrando o petisco na boca.<br /> <br /> Quando morava na minha mãe, todos os dias ao acordar eu abria a janela do meu quarto para cumprimentá-lo. Ele ficava em pé do outro lado, apoiado na parede, olhos caídos, preguiçoso e esperando o carinho no pescoço. Era um ritual. Acredito que ele sinta falta disso desde que me mudei.<br /> <br /> Ele reconhece o barulho do meu carro. Toda vez que paro em frente à casa, ele vem correndo. Quando percebo que por um motivo ou outro ele não ouviu, o que é bem raro, dou ré e volto para fazer mais barulho. É batata! Lá vem o cachorro ao meu encontro, abanando o rabo, orelhas para trás, dando risada. É lindo.<br /> <br /> Chego perto dele e falo: “faz cachorrinho!” É um código nosso. Quando digo isso, ele se agacha e fica esfregando o focinho de um lado para outro entre as patas dianteiras. O traseiro fica sempre para cima. É exatamente o que ele fazia quando era filhote.<br /> <br /> Depois peço: “dá a pata”. Daí ele senta e dá a patinha. Falo: “a outra”. Ele olha para mim querendo dizer: “vou cair”. Olha para os lados, dá um impulso e coloca as duas patas na minha mão. Isso foi ensinado pelo meu irmão, que também o ensinou a andar na rua de forma sociável. Antes, poderia dar muita confusão. Aliás, no caso do meu irmão, o esperado é o passeio. Vê meu irmão e já quer ir para a rua.<br /> <br /> E vem a terceira parte. “Vou pegar do Kiko!” Ele corre em direção à casinha que fica no fundo da casa. O intuito é proteger vasilhas com ração ou algum outro petisco que esteja com ele. Pronto. Mais um delicioso ritual cumprido. E a minha alegria é maior quando ele desanda a correr, ou melhor, a galopar pelo quintal. Cachorro forte. Corpo musculoso. Pelo com muito brilho e sempre, sempre amoroso.<br /> <br /> Hoje o Kiko está com 11 anos e há dois meses sofre com problemas no fígado. Foram várias visitas ao veterinário e inúmeros exames. Mas o diagnóstico não é favorável. E a cada dia vemos ele perder um pouco do seu brilho, entusiasmo e apetite. Sempre olho o nariz dos cachorros para saber se estão bem. Algum dia me disseram que quando o nariz está seco é porque o bicho está doente. Até uma semana atrás, o nariz do Kiko estava bem úmido. Estive há poucas horas com ele e está seco. É muito triste vê-lo emagrecer.<br /> <br /> O que vejo agora é um cachorro triste que se esforça para parecer bem. Ele não come sozinho. Minha mãe bate a comida dele no liquidificador e força a alimentação. Caso contrário, ele ficaria ainda mais fraco. Minha irmã fez um cronograma dos horários para os mais de cinco remédios. O pior é que não pode tomar muita água pois ela se acumula na barriga. Para tirá-la, mais um procedimento dolorido. Mas ele tem muita sede. Logo ele que não parava de beber água. E tinha que ser do jeito dele. O pote cheio até a boca, para que não tivesse muito esforço. Apenas apoiava o focinho no pote e lambia. E lá tinha que ir alguém voltar a encher seu “copo”. Foi minha prima Cristiana que identificou essa particularidade. <br /> <br /> A única coisa que ele come são os petiscos que levo quando vou visitá-lo. Minha mãe fala que é só para mostrar que de uma forma ou de outra está bem. Ou quem sabe para cultivar o pouco do Kikão, como meu irmão o chama, de antes. “Sim! É do Kiko!”<br /> <br /><a href="https://www.blogger.com/#"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-i4X7Vgsecog/TWbDncLos_I/AAAAAAAAAMM/MVPQXq-JtHs/s320/KIKAO.jpg" /></a> <br />Kikão <br /><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><br /></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td></tr></tbody></table></div>Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-80376416634089585292011-01-17T23:41:00.025+02:002021-12-29T17:44:42.544+02:00a forra do boi. defensores dos animais até que ponto?Duas notícias sobre touradas ganharam destaque na mídia em 2010: a primeira falava sobre a proibição de eventos desse tipo na Catalunha, Espanha. O Estado de São Paulo, no dia 28/07/2010, trouxe o artigo “<a href="https://www.blogger.com/#">Os últimos olés da Catalunha</a>”, que claramente se posicionava a favor da decisão do Parlamento catalão:<br /> <br />Tradições não são eternas, nem sagradas. Se o fossem, ainda estaríamos queimando feiticeiras e empalando gatos pretos ou sacrificando viúvas, como se fazia na Índia, e os criados, como se fazia no Egito.<br /><br /><div>A segunda notícia foi sobre um touro enfurecido que atacou a plateia, ferindo 30 pessoas e que foi, em seguida, sacrificado. A foto do animal com os chifres ensanguentados estampou metade da página, também do Estado de São Paulo, desta vez no dia 22/08/2010, sob o título “A forra do boi”.<br /><br /><a href="https://www.blogger.com/#"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjReKRj1hLLhE_0Sy7lzBZcJzaApggwv4cfy0qyWGKNn84XtmxklREujhvBTRZfd0SX8oiPNrhCR9AR6kxFaydRDeC-CKz48QKYqQ0Wn1bD0c_kbo5eBw70om8vWMSb4A3UoDd1fx0dU3gl/s400/imagem1.jpg" /></a><br /><br /> <br />Poucas pessoas, hoje, se questionadas, afirmarão que são a favor de touradas. Assim como são poucas as pessoas que dirão que apóiam a farra do boi, em Santa Catarina, ou que são adeptas ao uso de peles de tigres, onças ou outro animal tido como exótico. A mídia favorece essa opinião, fomentando a ideia de que não devemos maltratar os animais e, sim, preservar as espécies, sobretudo as que estão em extinção.<br /><br /></div><div>A filósofa britânica Mary Warnock, em seu ensaio sobre os animais, em que critica o especismo de Peter Singer, afirma que os animais só poderão ter direitos se os mesmos estiverem previstos numa Lei. No Brasil, temos a Lei de Crimes Ambientais nº 9605, de 1998, cujo artigo 32 prevê multa e prisão para quem a infringir, maltratando os animais. Ela nem sempre é cumprida com exatidão, assim como muitos outros parágrafos previstos em nossa legislação. O fato é que ela existe, embora com lacunas. Sobre quais tipos de maus-tratos estamos falando?</div><div> <br />Alguns são facilmente identificados, como o caso do “Queimadinho”, um cavalo da Baixada Fluminense que foi vítima de queimaduras graves. O animal “trabalhava” carregando uma carroça na época em que o agressor atirou álcool e fogo contra seu corpo. A história foi disseminada pela TV Record, que diariamente em seus telejornais noticiava a recuperação do cavalo, que quase morreu. Ele ficou sob tratamento no Batalhão da Polícia do Rio de Janeiro e ganhou apoio e prestígio da população local, e também do resto do País após virar notícia. Uma reportagem especial, “<a href="https://www.blogger.com/#">Conheça a história do cavalo Queimadinho</a>”, ocupou mais de dez minutos do Domingo Espetacular de 20/04/2010. A história segue esse enredo: o cavalo foi vítima de uma crueldade, pessoas próximas, inclusive crianças, sofrem por vê-lo neste estado. Mas o fim é feliz, com a recuperação gradual do animal. Na reportagem, o animal tem sentimento, sente dor e espera por apoio, carinho e compaixão.<br /><br />Outro caso: passeando pelo Mercado de São Paulo, vemos pedaços inteiros de porcos, peixes, aves e bois dispostos pelas barracas. Chama a atenção o ponto “<a href="https://www.blogger.com/#">Porco Feliz</a>”, que vende “carnes nobres e exóticas”. Não há ninguém questionando como os animais foram parar ali ou em que condições foram abatidos. Aliás, não há nenhuma preocupação sobre o fato de um dia eles terem tido uma vida fora das prateleiras.</div><div><br />Mais um ato: a nova vacina contra a gripe H1N1, ou suína como ficou conhecida, foi testada primeiramente em furões. Sem entrar no mérito do alarde feito pela Organização Mundial da Saúde sobre a provável epidemia, tido depois como um exagero, o que vimos foi grande parte da população ser vacinada e protegida. Os animais foram necessários para o desenvolvimento da medicina, conforme informa o Portal Terra, em 19/08/2009, “<a href="https://www.blogger.com/#">Gripe: teste com animais valida nova vacina, diz laboratório</a>”:<br /> <br /><i>O Novavax disse que a vacina protegeu furões contra a nova cepa pandêmica. Os furões são os animais mais parecidos com os humanos no que diz respeito à contaminação por gripes. “Os furões receberam uma dose de 3,75, 7,5 e 15 microgramas da partícula semelhante ao vírus H1N1 de 2009, ou um placebo, e receberam o reforço de uma segunda dose após três semanas”, disse a empresa em nota.</i><br /><br />Ligando a TV durante o almoço num sábado à tarde, vemos num destes programas que traz estrelas do show business ensinar um dos pratos favoritos de uma atriz: lombo de porco. Seria o “Porco Feliz”?</div><div> <br />Já uma reportagem, também no Domingo Espetacular da TV Record, mostra a <a href="https://www.blogger.com/#">SUIPA sob investigação</a>. Essa é uma das mais antigas associações em defesa dos animais no Brasil. A reportagem mostra os galpões do grupo em péssimas condições, além disso, insinua que há um desvio de dinheiro das doações. Já os animais são mostrados doentes, tristes, mais abandonados que nunca. O telejornal ouve as duas partes: acusação e réu. Neste caso, não importa o desfecho e, sim, o contexto que queremos abordar.</div><div> <br />É justamente disso que trata Peter Singer quando inaugurou a “Libertação Animal”, o paradoxo na relação do homem com os animais, a facilidade com que o ser humano tem de, mesmo inconscientemente, separar e classificar os bichos. Pode ser que muitas pessoas não comeriam o porco exposto no Mercadão se o tivessem visto brincando em vida, como o personagem principal de “Babe, o porquinho atrapalhado”, filme de 1995. Como vimos, o porco está sempre presente, seja no prato ou no dito: no “espírito de porco”, em “ser porco” ou “comer como um porco”. Outros bichos também serviram para rotular os maus hábitos humanos, se transformando em expressões populares herdadas de nossos antepassados, como bem explicou Keith Thomas, ao citar o manual de boas maneiras de Erasmo:<br /> <br /><i>Não mexa os cabelos, como um potro; não relinche ao ri, como um cavalo, ou mostre os dentes, como um cachorro; não balance o corpo inteiro ao falar, como uma lavandisca; não fale pelo nariz: isso é próprio das gralhas e dos elefantes. (Thomas, 1988:44)</i></div><div><br />A verdade é que isso não importa. Somos carnívoros, o que é inquestionável. “Como você consegue ficar sem carne?” é uma pergunta que sempre ouço, principalmente durante as refeições. Às vezes, finjo que não escuto o questionamento e fica por isso mesmo. Comer carne é normal. Viver a base de vegetais é o incomum.<br /> <br /> Por muito tempo se tentou justificar a soberania humana tendo a Bíblia e o mito da criação como álibi. Vimos isso nos relatos de Keith Thomas sobre a Inglaterra dos séculos XV a XVIII. Pensadores, pesquisadores e teólogos sempre tinham um argumento para mostrar o porquê de os homens poderem utilizar os animais a seu favor.<br /> <br /><i>No século XVIII, Philip Doddridge (pastor inglês que viveu entre 1702 e 1751) considerava que, como os animais são “capazes apenas de níveis limitados de felicidade, em comparação com o homem, é “adequado que os interesses deles cedam ao da espécie humana sempre que, em algum artigo considerável, surgir competição entre uns e outros.” (Thomas, 1988:27)Como ele mediu este nível de felicidade, não sabemos. Mas alguém que tem um animal de estimação poderia questionar. Alguém como uma das mulheres da reportagem “<a href="https://www.blogger.com/#">Filhos de quatro patas</a>”, do Estado de São Paulo, também do dia 22/08/2010, e capa do suplemento Feminino do jornal. O texto fala sobre mulheres que tratam seus animais de estimação como filhos. </i><br /> <br />Criados com regalia pelas irmãs Selma, uma professora aposentada de 57 anos, e Márcia Hage, biomédica, de 50 anos - as “mães” -, o casal de cães Schnauzer tem de tudo: ração e xampus especiais, gargantilhas de pelica, roupinha de plush para o inverno com direito a capuz e detalhes em strass, cobertor, frasqueiras para carregar seus kits de banho e de higiene bucal, além de visitas corriqueiras ao veterinário. A cama fica ao lado da delas. Nas noites frias, não hesitam em pular para cima e, ainda, dormem com a cabeça no travesseiro. Ah, também adoram passear de carro. E há cinto de segurança para a dupla. O perfume? É francês!</div><div><br /></div><div><a href="https://www.blogger.com/#"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaDU6fC1MNVUDmtcW9mVKCM636W3rXvvnGDXhp0OXVKpwgONKvdFzXnHmeKAONOiemKLnDKeSYxDGG6QtnTUQLmxhUd2u6swheUo7NJ4TZBWCKnHoqMD1iSMV58EJqDeHQ-WwReETDRcaY/s320/imagem3.jpg" /></a><br /><br />Exagero? A matéria tem por vezes um tom irônico e por meio de depoimentos de psicólogos alerta sobre os limites da relação com os bichos de estimação. Cita, ainda, os casos raros de heranças que foram deixadas para os animais. <br /> <br />Os bichos de estimação da milionária norte-americana Gail Posner, que era filha do empresário Victor Posner, herdaram R$ 21 milhões após sua morte. Para o filho, ela deixou R$ 1,7 milhão de herança. Limites à parte, mesmo nestes casos extremos podemos dizer que há uma divisão que separa os animais dos seres humanos. Para começar, muitos deles são de “raça” e muitos deles são “comprados”. Excluindo o contrabando de crianças, que é outro debate e outra dissertação, não compramos filhos. Podemos adotá-los, mas não os escolhemos em vitrines de pet shops, como fazemos com os animais.</div><div> <br /><i>O cachorro custava R$ 900, dinheiro que não dispunham naquele momento, em que o saldo bancário estava no vermelho e não havia trabalho em vista. Eduarda sabia que aquela raça trazia sorte, e a lenda foi comprovada. “Enquanto ele preenchia o cheque desesperado, o telefone tocou e fechamos um contrato com o ator e produtor Paulo Betti.”</i></div><div><br />A cena acima foi narrada por um casal de músicos que comprou um cão da raça lhasa apso. Será que um vira-lata não merecia a mesma atenção e poderia ser, também, um amuleto da sorte? O mesmo suplemento que traz esta matéria sobre o amor exagerado pelos animais indica, na seção Modas, sapatos e bolsas de couro que chegam a custar mais que o cachorro dos músicos. Nenhuma menção ao boi que serviu de matéria-prima. Continuando a folhear o mesmo suplemento, nos deparamos com um anúncio da ração “Premier - Raças Específicas”. Com certeza, não é para qualquer cachorro. Mas pode ter sido feita com qualquer vaca. Merece o jornal uma carta agressiva de algum protetor citando a Lei nº 9605/98, artigo 32? <br /> <br /> Enfim, esta é a discussão dos protetores dos animais. Mas aqui também temos outro paradoxo. Esta é a discussão dos protetores dos animais mais ortodoxos. Aqueles que levam a sério os questionamentos de Peter Singer. Os que responderam sem hesitar o questionamento inicial de Warnock: “devemos ser vegetarianos?” Sim, eles respondem, sem piscar o olho.</div><div> <br />Mesmo dentro da defesa dos animais, temos voluntários que se dedicam apenas a cuidar de animais domésticos abandonados. Temos aqueles que lutam contra caça ou em defesa dos que estão em extinção. E temos os que atacam todos os lados. Numa tentativa de entrevistar a Nina Rosa, presidente do Instituto que leva seu nome, ouvi:<br /> <br />Não adianta falar com a imprensa, não adianta falar com os estudantes. Já fiz muito isso e não virou nada. Só atrapalha. Tenho muito o que fazer aqui, minha filha, tenho que cuidar de muitos bichos. Todos, inclusive das moscas.O PETA, neste contexto, surge como um dos grupos mais radicais do mundo. Ganha muita mídia espontânea com seus protestos que trazem pessoas nuas, anúncios com conotação sexual e artistas famosos ou quase famosos. Somente na Folha Online, foram identificadas 69 matérias com referência direta ao PETA, de 2004 a 2009.</div><div><br />Pesquisa feita para embasar a hipótese de um <a href="https://www.blogger.com/#">mestrado</a>, de que os discursos dos protetores dos animais muitas vezes não são efetivos, mostra que 65% dos ativistas ouvidos já tinham uma predisposição para a defesa dos animais antes de levarem a sério este trabalho. “Desde criança já gostava de animais.” Então, faltava pouco para eles adentrarem na luta em prol dos seres não humanos. Bastou um animal específico que viram sofrendo, informações na imprensa sobre a crueldade ou contato com alguma ONG, entre outras observações, para se tornarem ativistas da causa.</div><div> <br />Ao falar sobre campanhas anti-drogas, Eduardo Furtado Leite, em “Drogas, concepções, imagens”, analisa as campanhas preventivas e a real eficácia delas. Termina dizendo que elas não podem garantir que o consumidor de drogas abolirá o consumo. Ele fala, acima de tudo, em educação e em deixar o usuário ter acesso a outras práticas que venham a substituir a eventual fuga da realidade que a droga proporciona.</div><div> <br />Para os animais, não é diferente. Por isso, questionamos alguns artifícios utilizados pelos defensores dos animais. As campanhas mostram animais mortos, feridos, sem pele e ensanguentados. Como apontou Roland Barthes em “Mitologias”, isto pode não chocar, porque não estamos diante da cena, não estamos presenciando e vivenciando o fato. Alguém já viu e sofreu por nós, diz o filósofo francês ao comentar uma exposição de fotografias para “chocar o público”, como soldados mortos amontoados.<br /> Outro ponto controverso é o engodo artístico. Fernando Pessoa já dizia que “O poeta é fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente.” Pois o artista também é um fingidor. Finge tão completamente que podemos não acreditar na causa que deveras defende. <br /> <br /><i>Ora, nenhuma dessas fotografias, excessivamente hábeis, atinge-nos. É que perante elas ficamos despossuídos da nossa capacidade de julgamento: alguém tremeu por nós, refletiu por nós, julgou por nós; o fotógrafo não nos deixou nada - a não ser um simples direito de uma aprovação intelectual: só estamos ligados a essas imagens por um interesse técnico; carregas de sobreindicações pelo próprio artista, para nós não têm história, e não podemos inventar a nossa aceitação a essa comida sintética já perfeitamente assimilada pelo seu criador. (Barthes, 2004:107)</i></div><div><br />As celebridades fazem parte do contrato de comunicação do PETA. Estão fortemente presentes nos anúncios e são responsáveis por grande parte do espaço que o grupo consegue nos veículos de comunicação por meio de mídia espontânea. Porém, a presença de famosos não é exclusividade do PETA. Eles estão presentes em muitos anúncios publicitários. Vendem de tudo e para todos, inclusive ideias, porque os fãs costumam copiar o estilo dos ídolos. Os roqueiros fãs do vocalista do Guns n´Roses, Axl Rose, saíam pelas ruas com uma faixa na cabeça, como o cantor, exemplo simplista, mas que retrata uma realidade de cópias e espelhos.</div><div><br />A diferença para ações e discursos voltados às ONG´s, contrapondo a venda de bens de consumo, é que partimos do pressuposto de que as celebridades são realmente engajadas na causa que estão defendendo. Principalmente porque muitas vezes há a divulgação de que não estão ganhando cachê para expor suas imagens em anúncios, vídeos ou outros tipos de propagandas que levam o nome dos grupos que apóiam. Afora, muitas delas, falando especificamente sobre as que aparecem no PETA, dão depoimentos e entrevistas sobre os direitos dos animais, criticando maus-tratos e fazendo campanhas pelos bichos, mesmo sem fazer referência direta ao grupo.</div><div><br />Por outro lado, também podemos questionar até que ponto o engajamento não é uma forma desses artistas se aproximarem dos mortais, de mostrar que também são sensíveis a causas comuns. Muitos deles precisam estar próximos e presentes, e enfatizar que também são humanos. Como fizeram condes franceses e príncipes espanhóis no “Cruzeiro do Sangue Azul”, que Barthes descreve. “Os reis brincavam de homens” (Barthes, 2204:36). Trata-se de umas férias que apenas reforçam que eles são diferentes. Eles têm que entrar no cotidiano dos mortais para enfatizar sua origem sangue azul e posição que ocupam no universo dos seres sobre-humanos.<br /> <br /> Não estariam todos no jogo da sociedade do espetáculo, uma forma de autopromoção por meio dos animais como os reis conseguiram, de certa forma, uma autopromoção “brincando de homens”? Aqui seria o contrário, não a celebridade vendendo a defesa dos animais, mas os animais vendendo a celebridade. Não se pode negar que com isso o PETA aparece, mesmo que apenas numa pequena menção. Afinal, o mais importante é saber se a Alicia Silverstone sentiu ou não vergonha de tirar a roupa diante das câmeras para a campanha do PETA, aos motivos que levaram a atriz a, supostamente, adotar uma dieta vegetariana.<br /> <br /><i>Assim, os gestos neutros da vida cotidiana adquiriram no Agamenon um caráter de audácia exorbitante, como as fantasias criativas nas quais a natureza transgride os seus reinos: os reis barbeando-se a si próprios. (Barthes, 2004:36)</i></div><div><br />Análises semióticas dos anúncios do grupo mostram que a celebridade acaba por desligar-se da informação da defesa dos animais. O interpretante imediato mostra um artista engajado com uma causa que não sabemos exatamente o que é: tem a ver com animais, ele nos diz.</div><div> <br />Discursos agressivos e proibitivos podem intimidar porque podem dar a impressão de que os protetores é que estão errados ou que vivem colocando em prática ideias extravagantes. É o que interpreta a mídia quando diz “<a href="https://www.blogger.com/#">Os manifestantes do PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), entidade de defesa dos animais, aprontaram mais uma</a>”, texto da Folha Online, 24/01/2007. É o que é passado para o público que lê a matéria.</div><div><br />Como defensores dos animais, lutamos e esperamos pela verdadeira “forra do boi”. Como espectadores e analistas desses discursos, sabemos que este dia está muito longe. Não se pode negar que essas ações são extremamente necessárias, pois despertam e levantam, de alguma forma, o problema. Os esforços são para que essas discussões e preocupações não sejam efêmeras, e que sejam incorporadas pelas pessoas.</div><div><br />Os protetores dos animais realizaram bons resultados nas últimas décadas. É grande a visibilidade que a mídia dá à defesa dos animais, ouvindo inclusive o ponto de vista das ONG´s. No entanto, ainda está longe do ideal antiespecismo de Peter Singer e dos ativistas mais extremistas. Para eles, a questão crucial é a alimentação, como apontou Mary Warnock.<br /> <br /> Singer propõe o abate humanitário, um primeiro passo para diminuir a dor dos animais. Warnock condena esta posição entrando com um pensamento cartesiano: é ou não defensor dos animais? Para ela, não pode haver meio termo. Tendemos a defender o ponto de vista de Singer, pois o ativista ortodoxo e fiel ao extremo a seus princípios pode afastar as outras pessoas, que passam a vê-lo como alguém inconveniente que só quer pregar seu ponto de vista. Isto vale para religião, política e não poderia ser diferente na defesa dos animais.<br /> <br /><i>Temos, ainda, um longo caminho a percorrer até o ponto em que será possível pressionar restaurantes e fabricantes de alimentos a eliminarem por completo os produtos de origem animal. Esse momento chegará quando uma parcela significativa da população estiver boicotando a carne e outros produtos de granjas industriais. Até lá, a coerência exige apenas que não contribuamos significativamente para a demanda de produtos de origem animal. Dessa forma, podemos demonstrar que não temos necessidade de produtos de origem animal. É mais fácil convencer os outros a adotar nossa atitude temperando nossos ideais com o senso comum do que lutando por um tipo de pureza mais próprio de regras alimentares religiosas do que um movimento ético e político. (Singer, 2004:264)</i></div><div><br />Equilibrar os dois pontos, vendo que a utilização de animais pelos seres humanos é muito mais que um hábito e se constitui em algo antropológico, surge como a melhor forma de dirigir os caminhos a serem percorridos rumo a políticas mais justas para ambos: homem e não homem.</div><div><br />De degrau em degrau, sem passar por cima de ninguém. Esta é “minha dureza”, como disse Nietzsche, num de seus aforismos em “A gaia ciência”:<br /> <br /><i>Tenho de passar por cem degraus,<br />Tenho de subir e escuto vocês falarem:<br />“Você é duro; então somos feitos de pedra?” - <br />Tenho de passar por cem degraus,<br />E ninguém quer ser degrau.</i><br /><br /> Ninguém abre mão do que conquistou. E a conquista do reino animal e vegetal faz há muito tempo parte das vitórias humanas. Quem sabe, neste caso, não seja necessário descer um degrau?<br /><br /> <br /><b> Referências</b></div><div><br />BARTHES, Roland. Mitologias. São Paulo: Bertrand Brasil, 1993.<br />LEITE, Eduardo A. Furtado. Drogas, concepções, imagens: um comentário sobre dependência a partir do modelo usual de prevenção. São Paulo: Annablume; FAPESP, 2005.<br />NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.<br />SINGER, Peter. Libertação animal. Porto Alegre: Lugano, 2004.<br />THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.<br />WARNOCK, Mary. Os usos da filosofia. Campinas, São Paulo: Papirus, 1994.</div>Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-8445911832900662142010-11-18T21:45:00.004+02:002021-12-29T17:48:00.884+02:00um pouco do meu trabalhoMinha dissertação foi defendida e aprovada (ufa!) no dia 19 de outubro deste ano, na PUC-SP. Ela examina as campanhas em prol da proteção dos animais, de acordo com a análise dos contratos de comunicação de Patrick Charaudeau. Busca compreender como os emissores e os receptores dos textos são construídos a partir do que é veiculado na mídia, e quais estratégias têm sido empregadas para alterar a percepção do público em relação ao tema. <br /><br />Geralmente, as entidades protetoras dos animais não dispõem de verbas para anúncios em mídias tradicionais. Assim, as chamadas mídias alternativas são amplamente empregadas. Entre elas, estão manifestações vistas como radicais: passeatas, boicotes e invasões a estabelecimentos públicos e privados. Essa é uma das estratégias mais utilizadas pelo PETA - People for the Ethical Treatment of Animals, maior grupo de proteção aos animais do mundo. <br /><br />Para abordar o assunto, é utilizada a teoria de John Downing sobre mídias radicais. No trabalho também são analisadas campanhas publicitárias do PETA, assim como a repercussão de seus movimentos na imprensa brasileira de 2004 a 2009. <br /><br />Os efeitos das campanhas são estudados a partir da semiótica peirceana, tendo como suporte as obras de Winfried Nöth, de Lúcia Santaella e do próprio Charles Sanders Peirce. <br /><br />A relação do homem com os animais é analisada a partir de Keith Tomas, que fala sobre a história da domesticação. Para entender os princípios que regem os discursos dos ativistas são abordados textos de Peter Singer e Mary Warnock, que destacam ética, crença e ideologia.<br /><br />O objetivo é avaliar se os trabalhos dos protetores dos animais para transformar discursos, por meio de campanhas de comunicação, são bem construídos. <br /><br />O vídeo a seguir mostra um pouco das ideias e imagens que são analisadas no decorrer da dissertação. <br /> <br /> <br /><img src="https://img1.blogblog.com/img/video_object.png" />Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-80452578735448856752010-11-18T19:55:00.002+02:002021-12-29T17:59:01.276+02:00o que pensam os protetores dos animais“Desde criança eu já gostava dos animais.” É o que dizem 65% dos protetores dos animais que responderam a pesquisa desenvolvida para meu mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. O questionário utilizado teve como base o modelo de John M. Kistler, em seu livro “People Promoting and People Opposing Animal Rights. In Their Own Words”. Lá o pesquisador entrevistou 44 pessoas, entre aquelas que são a favor e as que são contra aos movimentos de defesa dos animais. Para o meu trabalho, ouvi 48 brasileiros selecionados por meio de grupos de discussões na Internet e que são ativos em seus propósitos de defender os animais. Os argumentos se assemelham:<div><br /><i> "Em primeiro lugar, eu sempre amei os animais, desde que eu era criança."<br /> <br /> "Adoto animais de rua desde criança, mas em 2002, comecei a organizar um grupo. Em Maceió não havia nenhum trabalho organizado, apenas protetores solitários."<br /> <br /> "Sempre amei animais, sempre tive galinhas, patos, porquinhos da índia, coelhos. Eles, na verdade, sempre foram meus reais e grandes amigos. Tive uma infância e uma adolescência de muita solidão, então, eles eram meus grandes amigos."<br /> <br /> "Desde pequena sempre amei os animais e, junto com minha mãe, recolhia bichos de rua."<br /> <br /> "Eu sempre gostei de animais e desde pequeno tive cachorro, cuidava de pássaros doentes etc."</i><br /> <br /><b>O perfil dos protetores<br /></b><br />Das 48 pessoas entrevistadas, 51% estão no Estado de São Paulo e 16% no Rio de Janeiro. Os demais se dividem, na ordem, entre Minas Gerais, Estados Unidos, Rio Grande do Sul, Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo e Santa Catarina.<br /><br />A idade média é de 41 anos. Aposentados, estudantes, funcionários públicos, professores, advogados e jornalistas são os principais atores nesta causa.<br /><br /><b>Atuação<br /></b><br />A grande maioria pratica trabalhos voluntários na área. Apenas 7% declaram que atualmente não desenvolvem nenhuma atividade, embora sejam fiéis à defesa dos animais. Pouco mais da metade, 52%, estão dentro de ONG´s; 6% apenas contribuem com algum grupo e 10% se autodenominam independentes, isto é, atuam sozinhos.<br /><br />Quando questionados sobre os motivos que os levaram a se envolver com a proteção dos animais, destaca-se o fato de sempre terem gostado dos bichos, resposta dada por praticamente 65% da amostra, o que denota influência do ambiente familiar. A compaixão pelos animais que vivem na rua vem em segundo lugar, com 42% das citações.<br /><br /><b>Como se tornou protetor dos animais</b></div><div><br />Sempre gostei de animais, desde criança <br />64,6% <br /><br />Compaixão pelos animais de rua <br />41,7% <br /><br />Acesso a informações sobre crueldades contra os animais <br />14,6% <br /><br />Animal de estimação <br />10,4% <br /><br />Influência de grupos de proteção dos animais na internet <br />6,3% <br /><br />Os animais não podem se defender <br />4,2% <br /><br />Influência de grupos de proteção dos animais <br />4,2% <br /><br />Influência de amigos <br />2,1% <br /><br />Animais na recuperação de doenças <br />2,1% <br /><br />Amor pelos animais <br />2,1% <br /><br />E são os animais que vivem nas ruas que mais despertam a atenção dos ativistas. Praticamente todos os entrevistados estão engajados com questões relacionadas a animais domésticos abandonados, em especial cães e gatos.</div><div> <br /><i>"Às vezes, vejo um cão chegar apenas com um problema na pata ou atropelado. Ninguém quer dar uma chance de vida ao animal e se fala logo na eutanásia. É mais fácil para as pessoas eliminar o animal do que passar o tempo todo cuidando."<br /> <br /> "Dedico-me a arranjar um lar para os que foram abandonados por seus “donos” ou aqueles que sofreram maus-tratos. Porque são criaturas indefesas que não têm como pedir ajuda." </i><br /> <br /><b>Atuação na proteção dos animais</b></div><div><br /></div><div>Salvar animais na rua: adoção, abrigos <br />62,5% <br /><br />Esterilização <br />31,3% <br /><br />Educação, conscientização <br />22,9% <br /><br />Vegetarianismo <br />8,3% <br /><br />Entretenimento: touradas, caças, circos, vaquejada, rinha de galo, forra do boi <br />6,3% <br /><br />Legislação mais rigorosa <br />6,3% <br /><br />Animais para produção de alimentos <br />4,2% <br /><br />Adestramento <br />2,1% <br /><br />Comércio de animais <br />2,1% <br /><br />Contribuição com dinheiro <br />2,1% <br /><br />Pombos <br />2,1% <br /><br />Trabalho acadêmico <br />2,1% <br /><br />Vivissecção <br />2,1% <br /><br />Sobre as pessoas que admiram dentro da proteção dos animais, 58,2% citaram voluntários anônimos ou que representam alguma ONG no Brasil. As respostas foram bem diluídas, com destaque para Nina Rosa, do Instituto Nina Rosa, com quatro menções, e a própria mãe, com três. <br /><br />Entre os famosos, as menções vão para Gandhi e Paul McCartney, com quatro menções cada um, e Brigitte Bardot, que foi citada três vezes. Algumas respostas:<br /><br /><i>"Acima deles, eu admiro pessoas anônimas, como Nice, da Ama, que cuida deles incondicionalmente. Eles nunca aparecem no Jornal Nacional. Fazem desinteressadamente o papel de protetor dos animais."<br /> <br /> "A proteção é podre. Muita gente está aqui pensando mais nas vaidades do que nos animais. E tem aqueles que são ´protetores de internet´. Ficam na frente do PC repassando pedidos de socorro e xingando porque ninguém socorreu. Na verdade me inspiro muito naquilo que não devo fazer. Não tenho ninguém em especial."<br /></i><br /><b>Quais são os opositores<br /></b><br />Os opositores são muitos e bem diversificados. Os principais alvos de críticas são aqueles que se mostram indiferentes aos animais, mesmo diante de informações sobre maus-tratos. Os entrevistados falam que essas pessoas não gostam nem de ouvir o que eles têm a dizer. Em segundo lugar nas menções, aparece a indústria da carne. Nas palavras deles: <br /> "As pessoas que obtêm grandes lucros através da pecuária. Utilizam vaquinhas e porquinhos felizes para vender a carne."<br /> <br /><i> "O uso de animais aumenta em razão dos benefícios econômicos que os exploradores conquistam e, também, por causa da anestesia moral nos consumidores, os quais consomem mais produtos de animais tratados de forma ´humanitária´."</i></div><div><br />Quem trata a defesa dos animais com indiferença <br />27,1% <br /><br />Indústria de carne <br />22,9% <br /><br />Todos que promovem ou apóiam rodeios, circos, vaquejadas, touradas, caças <br />14,6% <br /><br />Governo, políticos, militares <br />12,5% <br /><br />Quem comercializa ou compra animais <br />12,5% <br /><br />Quem maltrata os animais <br />10,4% <br /><br />Religião <br />6,3% <br /><br />Estilistas e pessoas que utilizam peles de animais <br />6,3% <br /><br />Todos que defendem a vivissecção <br />6,3% <br /><br />Protetores fundamentalistas e exagerados <br />6,3% <br /><br />Quem acha que defender os animais é inútil <br />6,3% <br /><br />Jornalistas <br />4,2% <br /><br />Quem é contra a castração <br />4,2% <br /><br />Ninguém <br />2,1% <br /><br />Empresas <br />2,1% <br /><br />Carroceiros <br />2,1% <br /><br />Asiáticos que comem animais domésticos <br />2,1% <br /><br />Todos que acreditam que o animal deve servir ao homem <br />2,1% <br /><br />Todos que doam animais sem castrá-los <br />2,1% <br /><br />ONG´s falsas <br />2,1% <br /><br />Tradicionalistas <br />2,1% <br /><br />Elite <br />2,1% <br /><br />Protetores que só querem aparecer <br />2,1% <br /><br />Sociedade <br />2,1% <br /><br />Quem não gosta de animais <br />2,1% <br /><br />Veterinários do Centro de Controle de Zoonose <br />2,1% <br /><br /><b>Educação</b></div><div><br />O objetivo maior com a defesa dos animais é educar e conscientizar a população sobre os animais e seus direitos. Também buscam por Leis mais rigorosas com punição para os que venham a agredir os bichos. Reforçando a questão que mais os preocupam, que são os animais abandonados, a castração em massa surge como um objetivo a ser alcançado, evitando que novos animais nasçam condenados a ficar nas ruas.<br /><br />Neste contexto, eles buscam convencer principalmente as pessoas mais próximas como amigos e familiares, incentivando a adoção de cães e gatos e condenando os pet shops que comercializam esses animais, entre outros. A estratégia para isso é, mais uma vez, a educação: leituras, palestras e divulgação de mensagens e imagens que atestem atos cruéis contra os animais. Petições, cartas e e-mails para políticos e imprensa também fazem parte dos artifícios que eles utilizam na tentativa de serem ouvidos. Em longo prazo, alguns esperam criar santuários para abrigar os animais encontrados nas ruas.<br /><br /><i> "A mídia deveria trabalhar mais esta questão assim como tantas outras. Divulgar a necessidade de adoção, da esterilização, a posse responsável, enfim, atingir o maior número de pessoas que for possível. As pessoas precisam aprender a ter atitude e não esperar que uma força divina intervenha e faça algo. Rezar não salva ou enche barriga de ninguém."<br /> <br /> "As pessoas têm de perceber que animais são seres vivos, sentem dor, têm sentimentos, não têm como se defender do maior predador de todos que é o homem. Não tem mais desculpa, temos que parar de fingir e tentar protegê-los."<br /> <br /> "Esse movimento social de luta por direitos animais é algo que veio para ficar. É, acima de tudo, uma luta pela não-violência. Acredito que a violência é algo que se aprende. Infelizmente, aprendemos isso todos os dias quando comemos, vestimos e usamos outros seres que possuem interesses como nós. Reconhecer os direitos desses seres não é nada mais do que um dever ético."<br /> <br /> "É importante ressaltar que protetores dos animais não são pessoas que odeiam seres humanos, que querem o extermínio da espécie. Além de trabalhos voluntários pelos animais, também trabalho pelos direitos humanos. É possível conciliar a luta pelo fim de todas as injustiças do mundo, tanto para humanos quanto para animais. E existem diversas áreas que necessitam de trabalho voluntário e atuação. Se a pessoa quiser dedicar seu tempo por um mundo melhor, ao invés de criticar aqueles que já fazem alguma coisa, trabalho e atividades não faltam, tanto para humanos, quanto para animais e meio ambiente." <br /></i> <br />Para eles, as pessoas devem se importar com a proteção dos animais principalmente porque os animais também são seres vivos, que sofrem e sentem dor, e que há muita crueldade sendo praticadas contra eles. Alegam, ainda, aspectos éticos e pregam o fim da violência. Chegam a apontar que as pessoas que convivem bem com os animais têm um relacionamento melhor com outras pessoas.<br /> <br /> De uma forma geral, pedem mais respeito e atenção aos animais. Neste aspecto, a educação e conscientização surgem como uma das principais dificuldades, uma vez que as pessoas têm dificuldades em ouvir o que eles têm a dizer. <br /><br />Pelo sigilo que é próprio das pesquisas, não foram informados os nomes dos entrevistados. Muito obrigada a todos que participaram.</div>Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-86674656275012323022010-03-10T22:38:00.000+02:002010-03-10T22:40:53.541+02:00pesquisa: chamado aos protetores de todo o país<a href="http://www.surveymonkey.com/s/5JGSVCR">Clique aqui</a> para o questionário que desenvolvi para o meu projeto de mestrado. A pesquisa é exclusiva para os protetores dos animais. Por favor, participem.<br />
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Utilizei como base o modelo desenvolvido por John M. Kistler em seu livro <em>“People Promoting and People Opposing Animal Rights. In Their Own Words”.</em> Lá, o pesquisador entrevistou 44 pessoas, divididas entre aquelas que são a favor e as que são contra os movimentos de defesa dos animais. A minha adaptação pretende ouvir brasileiros que são ativos em seus propósitos de defender os animais. Vamos ver se os argumentos se assemelham.Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-16781831857850239942010-01-07T22:54:00.001+02:002021-12-29T17:52:30.841+02:00animais de estimação. animais para consumoNo prefácio à primeira edição do seu livro <a href="https://www.blogger.com/#">Libertação Animal</a>, em 1975, o filósofo australiano Peter Singer chama a atenção para a "tirania de animais humanos sobre animais não-humanos". Para ele, "a dor e o sofrimento dessa prática são apenas comparáveis aos que resultaram de séculos de violência de seres humanos brancos sobre seres humanos negros. A luta contra ela é tão importante quanto qualquer uma das disputas morais e sociais que vêm sendo travadas em anos recentes." Trata-se de uma afirmação que abre uma série de discussões entre aqueles que vêem os animais como seres que também têm sentimentos, e que por isso merecem ser respeitados, e os que crêem que os bichos são seres inferiores e que devem servir ao homem. No meio do debate, temos quem defende os animais; mas somente até a próxima refeição.<br /> <br /> É fato que condenamos a tortura de alguns animais. Cachorros, gatos, cavalos e animais selvagens, quando vítimas de maus-tratos, podem virar notícia. A sociedade ocidental repudia o hábito de coreanos de comer carne canina. Touradas, rodeios e farra do boi são alvos fáceis de protestos que atraem a atenção dos veículos de comunicação. Já vimos famosas modelos pedindo desculpas por terem eventualmente usado peles ou notas explicativas de diretores de filmes e programas de televisão justificando cenas que utilizaram animais e, ainda, empresas inserindo em seus relatórios anuais a diminuição gradual de experimentos com cobaias, a vivissecção. <br /> <br /> Por outro lado, os animais nunca estiveram tão presos às necessidades dos seres humanos. Uma matéria de capa sobre vegetarianismo, publicada em abril de 2002, na revista <a href="https://www.blogger.com/#">Superinteressante</a> da editora Abril, mostrava a vaca como um ser onipresente. O texto elenca todos os produtos que incluem animais mortos. São materiais de couro, seda, filmes fotográficos e até extintores de incêndio, que trazem substâncias retiradas dos pés dos bois. O sangue desse animal também é sugado e transformado em tintura, e sua gordura pode ter como fim o pneu do carro que os defensores utilizam para ir às manifestações. Enfim, de acordo com a matéria é praticamente impossível, mesmo para os vegetarianos, viver sem digerir ou utilizar restos mortais dos bichos, em especial os bovinos. A afirmação é uma apunhalada em muitas pessoas que defendem o direito dos animais, mas que continuam saboreando pratos à base de carne. Ou que utilizam cosméticos testados em cobaias. Ou que aquecem as mãos com luvas de couro. <br /> <br /> Singer analisa filosoficamente esse paradoxo em seu manifesto. E propõe, por meio da "Libertação Animal", um movimento que coloque um fim no preconceito do ser humano em relação às outras espécies. O principal argumento é que os animais não existem para servir aos homens. A superioridade que o ser humano pensa ter em relação aos outros seres é definida pelo filósofo como especismo, termo que compara ao racismo - preconceito aos indivíduos de outras raças - e ao sexismo - a discriminação sexual com as mulheres. <br /> <br /> Para o autor, os diversos movimentos de libertação já enfrentaram, e de certa forma superaram, várias batalhas, tais como a Libertação dos Negros, Libertação Gay e, ainda, a discriminação sexual que colocava as mulheres em um nível inferior aos homens. Agora é a hora da luta final, que é o fim do preconceito do homem em relação às outras espécies. Os animais devem ter os mesmos direitos concedidos aos seres humanos, uma vez que também sentem dor - física e psicológica. A crueldade com os animais não pode ser eticamente justificada, o que se constitui numa boa razão para tentarmos reverter as práticas que as perpetuam. A manifestação iniciada pelo filósofo teve grande repercussão no mundo inteiro. Em trinta anos de proliferação dos argumentos em prol dos animais, é possível enumerar conquistas dos quais ativistas se orgulham, mas que ainda estão longe da utopia de Peter Singer, que é a total independência dos bichos. E que há milhões de anos estão atrelados às necessidades dos seres humanos, em todas as escalas da pirâmide criada pelo norte-americano Abraham Maslow, desde as fisiológicas até as relacionadas à estima e à auto-realização.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimSdhs7iqjALwA02g3EB0uYPe4PI7weRdgds3hBbi6aJrae7n6y8uYaolJtROnRHxwArT5QAwo0G8JC3Uf_fG2n2g5yJGRIKAIoJQwDitdlmmfEQW9xFoENECi3oZ4hnnMhIDGHj1GNElD/s1600-h/LIBERTACAOANIMAL.jpg" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ps="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimSdhs7iqjALwA02g3EB0uYPe4PI7weRdgds3hBbi6aJrae7n6y8uYaolJtROnRHxwArT5QAwo0G8JC3Uf_fG2n2g5yJGRIKAIoJQwDitdlmmfEQW9xFoENECi3oZ4hnnMhIDGHj1GNElD/s320/LIBERTACAOANIMAL.jpg" /></a><br />
</div>Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-37358312443034218572009-12-30T16:11:00.001+02:002021-12-29T17:52:15.350+02:00fábulas, contos de fadas e o reino dos animaisAs fábulas e os contos de fadas são manifestações simbólicas que tendem a estimular a nossa imaginação. Geralmente, estão relacionados à literatura infantil e consistem numa das primeiras formas de entretenimento e contato com o mundo da fantasia. Contos e fábulas expressam a realidade que faz parte de nosso cotidiano. É interessante observar que sempre utilizam animais para caracterizar o pensamento e atitude do ser humano. Analogia que, de certa forma, facilita a compreensão da mensagem a ser transmitida.<br /> <br />Ao utilizar animais e natureza, as fábulas dão um tom alegórico à existência humana. Isso aproxima o público da mensagem. Muitas das associações entre os animais e as características humanas presentes nas fábulas estão presentes até hoje: Leão - poder real, Raposa - astúcia e esperteza, Lobo - dominação do mais forte, Cordeiro – ingenuidade. De forma lúdica e pedagógica mostram nossas virtudes e defeitos através das características dos animais. A alegria e a descontração dos animais facilitam a assimilação da "moralidade" ao mesmo tempo em que distrai os ouvintes. São estórias recheadas de medo, dificuldades, carências e autodescobertas que fazem parte do mundo infantil. <br /> <br />Ao contrário das fábulas, que têm como finalidade dar instrução moral, os contos de fadas deixam todas as decisões a nosso encargo. Cabe a nós, decidir se queremos ou não seguir o pensamento apontado ou as lições implícitas. No livro "A Psicanálise dos Contos de Fadas", Bruno Bettelheim apresenta o conto de fadas como "uma forma artística única".<br /> <br /><i>"Enquanto diverte a criança, ele esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão de diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança. Processo que começa com a resistência contra os pais e o medo de crescer, e termina quando o jovem encontrou verdadeiramente a si mesmo, conseguiu independência psicológica e maturidade moral, e não mais encara o outro sexo como ameaçador ou demoníaco, mas é capaz de relacionar-se positivamente com ele".</i><div> <br />Contudo, não vamos nos enganar pensando que os bichos são sempre mostrados como bons. Em Chapeuzinho Vermelho, o Lobo surge como um sedutor, que quando aceito pode se transformar no destruidor da "vovó boa e da menina". Também representa as tendências "animalescas" dentro de nós. Ele simboliza as maldades que a criança sente quando vai contra os conselhos dos pais. Sendo assim, precisa ser morto. E cabe ao caçador castigar o malvado, mostrando o lado protetor e racional. <br /> <br />Não queremos aqui apontar que o conto instiga maus-tratos contra os animais. Apenas mostrar como os animais foram abordados ao longo do tempo pelas religiões, contos de fadas, fábulas e todas as outras formas de divulgação que resistiram ao tempo e que ainda permanecem vivas nos registros populares. São abordagens que indicam a presença marcante dos bichos ao lado do homem. Relação que demonstra, ao mesmo tempo, amor, dependência, fúria, decepção, incerteza e muita contradição. <br /> <br />Assim como associamos os animais aos sentimentos humanos, não nos sensibilizamos quando paramos em frente a uma granja com centenas de frangos amontoados em jaulas minúsculas, aguardando o momento que os livrará do sofrimento imposto desde o nascimento. Desde os tempos bíblicos, passando por contos de fadas e histórias mostradas no cinema hoje, temos sempre os dois lados. E como entender esta relação, sempre ambígua e divergente?<br /> <i><br />"Um imprudente ratinho saiu aturdido de sua toca e foi cair exatamente entre as garras do leão. O rei dos animais, revelando sua natureza generosa, pois não é raro encontrar-se magnanimidade no coração de um leão, deixou o estulto safar-se em paz. O seu ato, como todas as ações, não foi perdido, pois, quem haveria de dizer que um simples ratinho pudesse prestar ao rei dos animais os seus bons ofícios? Entretanto isso aconteceu. Certo dia, ao sair da floresta, o leão caiu numa armadilha e por mais que fizesse não conseguia desvencilhar-se da rede; furioso, pôs-se a rugir e a debater-se como um louco. Mestre rato ouvindo aqueles rugidos não atemorizou, correu pressuroso ver o que se passava e dando com o leão emaranhado, tanto roeu com seus dentinhos que rompeu uma das malhas e a rede toda se desfez. Tempo e paciência podem mais que fúria e violência. Esta é uma das interpretações da moral; a outra ensina que: é necessário, tanto quanto se pode, prestar favores a quem quer que seja, pois às vezes pode-se necessitar de alguém mais humilde do que nós." (O Leão e o Rato, fábulas de La Fontaine)</i></div>Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-18213127554542429682009-12-29T20:36:00.001+02:002021-12-29T17:51:36.342+02:00chicken, run, run!!O cenário é uma fazenda no interior da Inglaterra. Lá, cercadas de arame farpado, vivem dezenas de galinhas. Todas trabalhando - sob pressão - na produção de ovos. Quem não atingir a cota mínima, corre o risco de virar jantar. Dentre as prisioneiras, destaca-se Ginger, uma galinha que sonha com a liberdade e que, apesar das tentativas fracassadas, está sempre arquitetando planos para fugir e conhecer o mundo. Até que encontra Rocky, um galo boa pinta que promete altos vôos, literalmente. <br /> <br /> Este é o enredo da animação "A Fuga das Galinhas", de Nick Park e Peter Lord. Sucesso nas telas de cinema em 2000, o filme retrata o cotidiano de animais criados para o abatimento. Durante a projeção, o público torce para que Ginger finalmente alcance o seu objetivo. Na vida real, a história é diferente. Em todo o mundo, cerca de 22 bilhões de bois, vacas, porcos, perus e, inclusive, várias "Gingers" vivem confinados aguardando a vez de virar uma refeição. Mas ainda são poucos os que torcem por uma fuga em massa. <br /> <br /> O filme é uma amostra do paradoxo existente na relação que temos com os animais. Ora considerados como membros da família, ora encarados como saborosos pratos.<br /> <br /> <a href="https://www.blogger.com/#">Vejam o trailer</a>.Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-64208440967483100952009-12-21T15:51:00.000+02:002021-12-29T17:59:38.801+02:00por que defender os animais?O que pensam os animais? Esta é uma questão que permeia várias discussões entre cientististas, artistas, médicos, psicólogos, cineastas e, claro, os protetores dos animais. Para o último grupo, não há dúvidas de que os animais são tão, ou mais, sensíveis que nós, seres humanos. Vamos falar um pouco sobre isto? Voluntários para responder: <b><i>Por que defender os animais ou por que não defender os animais?</i></b><strong></strong>Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-3605559101101923252.post-39557257375090372502009-12-21T15:09:00.000+02:002021-12-29T17:59:22.637+02:00o discursos dos protetores dos animaisSou mestranda em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Meu projeto gira em torno da defesa dos animais. Seus discursos, imagens, campanhas, protetores. Este blog é para debater esse assunto com adeptos e não adeptos da causa, pois acredito que devemos, acima de tudo, ouvir aqueles que têm opiniões contrárias às nossas. Somente assim podemos avaliar nosso enunciado. De repente, nem sempre estamos com a razão. E, se estivermos certos, com certeza teremos mais argumentos para reforçar nossa crença. O bate-papo que surgir aqui será utilizado na dissertação. Assim, todos que participarem já estão cientes que serão pesquisados.Kátia Okumura Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/00867201996566356507noreply@blogger.com2